sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sob a Lua...

Escrevi este conto há bastante tempo, seu nome era Espírito dos Lobos. É com bastante pesar que confesso não ter grande aptidão para criar títulos, mas eu tento. Hoje o lendo novamente, resolvi chamá-lo de Sob a Lua...

Há muitos anos atrás, em uma choupana no alto de uma montanha, vivia uma família de caçadores de lobo. Quando desciam a montanha, só voltavam para casa com um belo espécime morto. Todos se sentiam gloriosos e se orgulhavam de suas tradições, as passavam de geração em geração. Quando perdiam um membro da família para as garras de um lobo, eles caçavam o animal e não o matavam, faziam pior, arrancavam todos os seus dentes para que não levasse mais ninguém.

Os homens tinham seus deuses e cultuavam seus espíritos sagrados, porém eles temiam o espírito da lua cheia. Na lua cheia os lobos eram mais fortes, tinham mais sede de sangue e muitas vezes subiam a montanha e matavam os animais que os homens criavam. O líder da família escutava os uivos incessantes e perturbadores. No dia seguinte tinha que limpar a sujeira e calcular suas perdas, e novamente iam sair para a vingança, à guerra interminável entre eles e os lobos. Mas foi quando seu irmão foi morto que ele jurou que acabaria com isso, jurava enquanto lembrava-se do sangue do irmão sendo derramado, da ferocidade com que era mordido e de como suplicava com seus olhos, mas era tarde, era impossível salvá-lo. O espírito da lua cheia deveria deixá-los em paz. Porém não foi com paz que ele decidiu resolver algo. O espírito da lua cheia vivia no corpo de um grande lobo branco e de olhos azuis como o céu, tinha dentes afiados como lanças e era belo como nenhum outro animal conseguirá ser algum dia. Mataria esse lobo, se tal coisa fosse possível, mas não descansaria se não o fizesse.

Na lua cheia o caçador e todos os homens de sua família saíram da casa, estavam prontos para uma grande e sangrenta batalha. Os lobos avançavam e os homens também, sangue para todos os lados. O caçador líder matou todos os animais a sua frente, queria o espírito, e lá estava ele, subia lentamente a montanha e apenas observava seus filhos cobertos de sangue. O homem foi em direção a ele, queria sua tão esperada vingança, e com todo o ódio que nutria jogou sua lança, o animal se esquivou e o olhou desafiadoramente. Olhou bem fundo nos seus olhos e o derrubou num baque surdo. Quando o lobo virou as costas, o homem respirou fundo e o atacou novamente, dessa vez viu o pêlo alvo se tingir de rubro. Naquele momento seu rosto se encheu de júbilo.

O lobo caiu no chão, mas algo estranho aconteceu, ele se transformou numa mulher, tão branca como a lua e ainda mais encantadora. O sangue tingia o corpo bem feito da donzela, seu olhar era carregado de súplicas, assim como o do irmão do caçador.

Os olhos azuis estavam deixando o homem com pena, nunca tivera intenção de machucar tão meiga menina. Aproximou-se e segurou-a em seus braços. Nos dias seguintes só o que fez foi cuidar dela, sem se quer lembrar-se do lobo que antes fora.

Ela era tão doce agora. Apaixonaram-se, e enquanto estiveram juntos, a paz esteve perto dos homens e dos lobos. A donzela estava esperando um filho, seria sua lembrança para seu amado, até ela esquecera que não era uma humana, teria que partir em breve.

Numa noite de lua cheia o filho do chefe dos caçadores nasceu. Seu choro era arrepiante e todos escutaram os uivos dos lobos, com sua chegada sua mãe desceu a montanha e voltou à floresta, seria mais uma vez o grande lobo. Seu filho crescia longe dela, mas não por muito tempo, seus dias de lobo em breve chegariam.

P.S.: Resolvi modificar apenas o título, o texto está exatamente igual ao de alguns anos atrás, dois ou três, suponho.

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